domingo, novembro 21, 2010

Maria João Silveirinha - NOVOS MEDIA, VELHAS QUESTÕES

Este texto de 2002 simplesmente fantástico, proveniente do campo das ciências da comunicação que se veio a definir como "Media Ecology" levanta algumas questões bem interessantes bem como actuais.


"A passagem da comunicação face-a-face para a comunicação mediada como forma de articulação das sociedades modernas implicou uma ampla e generalizada mediação das relações sociais. O que está agora em causa, numa análise da modernidade tardia, sobretudo após a afirmação da televisão, é a forma e a medida da extensão, pelos media, dessas mesmas relações sociais.
Marshall McLuhan é, naturalmente, um dos pioneiros a explorar na teoria dos media uma crítica ao dualismo cartesiano da subjectividade. Os media - em especial os electrónicos - são extensões do nosso corpo - dos nossos membros, olhos, ouvidos, mãos e sistema nervoso - funcionando como suas expansões (McLuhan, 1964). Como resultado das forças integradoras da televisão, tornou-se possível relembrar a unidade orgânica dos nossos sentidos. A humanidade pode ser de novo reunida numa nova comunidade, a 'aldeia global'.
Contemporâneo de McLuhan, também Harold Innis se ocupou das transformações operadas pelos diferentes media. Innis ``reconheceu que a velocidade e distância da comunicação electrónica alargava a escala possível da organização social e aumentava fortemente as possibilidades de centralização e de imperialismo em questões de cultura e política'' (Carey, 1989: 137). A história moderna ocidental começou com a organização temporal e terminou com a organização espacial; nas palavras de Carey, ``é a história da evaporação de uma tradição oral e manuscrita e das preocupações com a comunidade, a moral e a metafísica, e da sua substituição pelos media da imprensa e electrónicos, apoiando um forma de comunicação em direcção ao espaço'' (Carey, 1989: 160). Com efeito, as modernas tecnologias da comunicação - co-
meçando com a imprensa e acelerando com os media electrónicos- cultivam uma ordem social estruturada com base no espaço. Contrastando com as culturas orais como a Grécia clássica, que equilibravam tempo e espaço, a nossa era é caracterizada por mobilidade e conquista. O resultado é uma negligência da continuidade cultural e o recolher da âncora do tempo. "

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