Perante o grau de informação que, actualmente, transborda dos ecrãs da nossa vida, há já quem lhe relacione movimentos como o ultra-politizado Agenda Surfing – frase proferida por José Sócrates para caracterizar a preparação que Marques Mendes fazia para discutir o estado da nação nos debates na Assembleia da República. Mas se pensarmos acerca deste aspecto chegamos à conclusão que desde a revolução industrial as máquinas têm vindo a alterar a vida das sociedades ocidentais.
A frase: “Run Forest, Run...” que Jenny (Robin Virginia Wright) diz a Forrest (Tom Hanks) no Filme Forrest Gump, de Robert Zemeckis, parece ser a que mais se adequa à realidade que vivemos hoje porque, desde tempos históricos, há uma substituição de hábitos ancestrais por máquinas que pautam o ritmo da nossa vida quotidiana, acelerando-a, substituindo-a, padronizando-a com actividades, por vezes supérfluas – aspecto que causa uma alteração irreversível do senso comum e a experiência vivida. Por isso, as transformações e mutações tecnológicas que imanam da actualidade das nossas vidas são apenas o acentuar de tendências ancestrais onde a novidade não reside na mediação tecnológica mas numa maior aceleração de ritmos de vida e do acesso imediato a dados com possibilidades interactivas.
Não é por acaso que existe um velho ditado que afirma que a história se repete. No entanto, aqui, podemos ver que, historicamente, houve momentos em que uma busca por uma certa essência cultural prevaleceu sobre a mediação das ferramentas tecnológicas; por exemplo, e de acordo com Adorno e o resto dos seus “colegas” da Querela Alemã, a cultura corria sérios riscos de perder as características que caracterizam a sua essência enquanto “uma cultura pura” sem nenhuma infiltração danosa proveniente da mediação técnica. Com estes estudiosos havia uma certa crítica que é feita ao comportamento humano porque estes investigadores observavam que o homem não consegue evitar uma constante necessidade de aceder à documentação impressa e aos funcionalismos tecnológicos.
“Um dia ninguém nos conhecerá melhor do que o nosso software”, afirma Rui Cádima acerca do que o futuro nos reserva. Aqui, gostaria de fazer um parênteses para destacar que nesta “Era da Informação” as novidades residem numa grande quantidade de informação, onde a “execução imediata” é o ponto de partida para transformações sociais; onde, num mundo laboral, se destaca a, cada vez mais presente, implementação do computador e de redes que fazem com que a valorização criativa e cognitiva tenham a tentação de resvalar para um exagero técnico. Há já algum tempo que se sabe que a interactividade é a base do sucesso do multimédia; aqui, observa-se que há a substituição de velhas relações hierarquizadas de uma forma feudal por outras que as disfarçam. Por exemplo, no fenómeno do “Trabalhador de Portfolio” (Charles Handy) o empregado passa a ser um “caracol não sindicalizado” representativo de um funcionário pertencente a um futuro onde o emprego passa a ser quase uma religião porque há fé em algo que não é presente fisicamente de uma forma constante.
Hoje, vemos que uma grande percentagem da empregabilidade se resume à palavra “precariedade” porque há uma inaparente obrigação de uma constante adaptação (aspecto que não está relacionado com factores didácticos) através de um nomadismo que faz com que aspectos ancestralmente acolhedores como a família sejam sujeitas à utilização de gadgets para a realização das suas comunicações interpessoais. No entanto, numa visão inversa, se pensarmos na questão do afamado “cidadão do mundo” esta ideia de nomadismo comunicacional ajuda a retirar a pertença territorial que ainda nos caracteriza como seres humanos... mas isso serão contas de outro rosário.
Info-exclusão
Hoje observa-se a existência de um grande investimento por parte das empresas e dos poderes políticos para modernizar as estruturas (redes, etc.); no entanto, as velocidades de implementação diferem de país para país de acordo com o seu poder financeiro. Há esforços para implementar sistemas de intranet em pólos empresariais, também se verifica que as escolas e os serviços públicos são alvo prioritários das preocupações dos governos. As operadoras móveis têm projectos (e-escol@) em que os sistemas de banda larga sem fios são oferecidos com portáteis a baixo custo. Se pensarmos na questão da Internet e da progressiva implementação do wireless observa-se que, já no século XVIII, Karl Marx afirmava que “ tudo o que é sólido se desmancha no ar”.
Em termos políticos, observamos que actualmente há realidades que ficam por ser apenas boas intenções porque existe uma desmesurada preocupação pelas questões tecnológicas – aspecto que descura os outros assuntos mais trabalhosos (educação, alteração de hábitos sociais, etc.). Em termos de formação verifica-se que há um enfoque baseado demasiadamente numa perspectiva de saber manusear as máquinas e os respectivos programas (software); esta ideia faz com que assuntos como a reflexão e a criatividade fiquem num plano secundário.
A preocupação de aliar as funcionalidades da Interactividade faz com que o ecrã deixe o panorama pixelizado da antipatia do Spectrum para passar a ser uma parte da solução e assim deixa de “usar a capa do causador de problemas” para sempre. Com o computador a deixar de ser “barreira” há uma transparência que faz com existam novas formas de aliar os tecnófobos nas fileiras do info-incluídos. Observa-se que, actualmente, a preocupação das empresas passa pelos tecnófobos mais jovens que ainda não conseguiram assimilar o conceito de que nos próximos anos nenhuma realidade profissional sobreviverá fora dos benefícios da tecnocracia da rede binária. “As auto-estradas da informação são essenciais para o desenvolvimento da Sociedade”, afirma, acerca da importância deste propósito, Derrick de Kerchove.
Hoje, observa-se que a palavra “convergência” é a grande preocupação das empresas; no entanto, esta realidade só se conseguirá se o “elo de ligação” for a Internet. Em termos práticos, esta característica verifica-se no crescente número de aplicações e softwares que transportam realidades provenientes da televisão e do computador para as de fenómenos de comunicação nomádica como acontece com os iPod’s, PDA’s, PSP’s telemóveis, etc. Aqui, há uma transformação na maioria das tarefas que eram, habitualmente, desempenhadas em realidades físicas fixas como o PC e os leitores de VHS, DVD, etc.
Para além deste aspecto observa-se que, actualmente, há uma tentativa de diminuir o fosso entre os países “info-ricos” e “info-pobres”, porque se sabe que a revolução digital dará lugar a um novo tempo e a uma nova sociedade (tanto em termos individuais como colectivamente) que se revelam diferentes do que conhecemos até agora – a Sociedade da Informação. Esta será caracterizada pela conectividade, dominada pelo mundo virtual e pela Internet onde há uma abundância de conteúdos que serão aspectos determinantes para a produtividade, criatividade, mobilidade, e competitividade – aspectos que servirão de alicerces para esta nova sociedade.
No entanto, é necessário superar alguns dilemas, que enumeramos neste artigo, para que se consiga o sucesso na implementação desta nova tribo nomádica. Em suma, podemos dizer que se estes problemas ficarem resolvidos, esta geração ficará para a história, com lugar reservado à beira dos que implementaram a Spinning Jenny (máquina de tecelagem industrial utilizada na Inglaterra nos sécs. XVIII e XXI), como propulsores do início de uma nova sociedade, de um novo tempo...
Fonte: "O Despertar"
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