segunda-feira, março 10, 2008

GLOBALIZAÇÃO, COMUNICAÇÃO & THE GADGET FAMILY...

É com um grande espírito de tristeza que se caracteriza o “status quo” da empregabilidade nacional dos nossos tempos. Aliás, ao fazermos uma reflexão histórica só encontramos semelhanças em tempos de crise; por exemplo, aquando da Grande Depressão nos EUA – quando milhões de trabalhadores foram despedidos – aspecto que esteve na origem de milhares de suicídios. No entanto, nessa fase, uma das soluções passou por uma certa atitude de “sacudir a água do capote” com afirmações como a que se segue de Alvin Toffler: “o despedimento veio a ser visto ... não como resultado da indolência ou fraqueza ... mas sim de forças gigantescas fora do controlo do individuo.” Aqui existem vários paradigmas de culpabilização que ficaram na história e que passam, invariavelmente, pelas seguintes linhas de pensamento: uma distribuição deficiente do capital, investimentos “à la carte”, políticas inadaptadas às necessidades dos povos, falta de comércio, incorrecções económicas etc., ou seja, todos aspectos em que há um “jogo” em torno da fuga da responsabilidade por parte de quem trabalha e de quem emprega. Aliás, esta luta veio a funcionar como força matriz para a obra que Marx apresentou ao mundo.
Hoje, tal como ontem, quando se discute direitos de quem trabalha e de quem emprega observa-se a existência de uma infinidade de egos, que foram gradualmente erguidos atingindo o tamanho de catedrais góticas, destruídos – quebrados facilmente pela base, como diz Al Pacino no filme “O Advogado do Diabo.” E tudo isto acontece em nome de princípios económicos que colocam em causa valores ancestrais como o conceito de “família” – a base histórica dos movimentos sociais que ocupa(va) um espaço que está gradualmente a ser alicerçado para edificação de pensamentos e estruturas destinados ao que o teórico Zigmunt Bauman define como: “Liquid Life” – uma vida liquidificada baseada numa visão anti-marxista em que se quebram mitos que, por enquanto, ainda caracterizam a nossa realidade da empregabilidade. Numa primeira abordagem, se pensarmos em exemplos como as criticas feitas à realidade da função pública em Portugal, poder-se-ia cair, imediatamente, na tentação de considerar este aspecto naquilo a que os britânicos consideram como: flawless – ou seja, não tem nem pode vir a ter defeitos. Aqui, por exemplo acerca da realidade das industrias mediáticas, gostaria de destacar a obra “Media Work – Digital Media and Society Series” de Mark Deuze porque este autor norte-americano escreve esta obra com base numa série de entrevistas feitas a profissionais que controlam os media e estão a definir as novas tendências deste mercado. O leitor tem a oportunidade de ver que ao longo deste trabalho Deuze chega a conclusões assustadoras e perversas porque, segundo este autor, este novo estilo de vida liquidificada está na base de realidades como: a crescente existência do infotainement, uma progressiva cultura de um consumismo de uma tv-light (novelas, reality shows etc.), a progressiva substituição de direitos de quem trabalha por um crescente número de deveres para com a entidade patronal, “formulas mágicas” em que se baseiam algumas das realidades político-sociais disfarçadas pelos media, etc. Ou seja, poder-se-á dizer que: “o profissional da comunicação passa a ser visto como um escravo que trabalho sob a ameaça constante de perder o emprego.” No entanto, este autor, não sintetiza a realidade comunicacional com esta etiqueta mórbida. E por isso mesmo, ao longo do seu trabalho Deuze refere vários factores positivos onde a democratização dos saberes sai claramente a ganhar. Por exemplo, hoje há uma inédita colecção de conhecimento, culturas e interacções em realidades virtuais que se definem através de anglicanismos e siglas onde se observa a substituição da linguagem oral por ferramentas com uma percepção universal. Aos que vivem a “Liquid Life”, referida anteriormente, de uma forma saudável, modernizando o conceito de “família” e a sociedade, Howard Rheingold chama-lhes “Smart Mobs” porque vivem uma vida recheada de interacções das mais variadas formas, tamanhos e feitios. Por exemplo, actualmente, um telemóvel que apenas sirva para fazer telefonemas e mandar sms’s – se é que ainda existam modelos com apenas estas modalidades – não é um telemóvel no verdadeiro sentido da palavra e do aparelho. Poder-se-á afirmar que: “está na pré-história das comunicações móveis actuais!” Hoje, devido à movimentação proveniente das constantes migrações de realidades como: Internet, televisão, rádio, jogos de computador, dados, funcionalidades do telefone clássico etc., poder-se-á dizer que as comunicações móveis convergem em si um manancial de realidades bem distintas. Para alem dos telemóveis, esta característica é também observável nos mercados dos leitores de MP4. Basta pensarmos no exemplo do iPhone da Apple em que é simultaneamente, um telemóvel, um PDA, um leitor de MP4 e tem as possibilidades de jogabilidade de uma Playstation 2. Ou seja, hoje, a ideia é: “menos e mais”, onde o termo “menos” se pode aplicar a características como o tamanho e a palavra “mais” está, naturalmente, relacionado com a quantidade de funcionalidades. Por isso, compreende-se as preocupações que existem nas empresas para encontrar novas formas de interacções sem ruídos – aquilo que Nicholas Negroponte definiu como: “tecnologias que funcionam como um ‘mordomo inglês’ – a sua eficiência é baseada na sua descrição.”
Actualmente, quando se fala de ruídos, observamos que as preocupações estão-se a direccionar para a Internet porque há uma vontade generalizada de organizar os dados que compõem a realidade da Internet. Aqui, para alem dos pensamentos económicos, há incentivos cívicos e familiares que funcionam como base para estes movimentos aglutinadores. Aliás, esta vontade resume-se a uma nova rede; a “Web 3.0” que, em termos práticos é baseada na seguinte ideia: “mata-se a actual WWW (World Wide Web – rede mundial) e cria-se a WWD (World Wide Database – Base de Dados Mundial) legislada e pronta a perfilar o público que interage com ela eliminando, desta forma, todos os ruídos nefastos.”
Em jeito de conclusão podemos ver que com a globalização da comunicação houve o fim e a alteração de vários paradigmas onde se destacam os aspectos políticos que passo a enunciar: a queda da maioria das ditaduras africanas, a desmoronamento da Cortina de Ferro , o fim dos bastiões comunistas (China e mais recentemente as progressivas alterações do panorama cubano), lideres políticos que foram “convidados” a sair de cena (Clinton), a implementação de sistemas políticos baseados no federalismo, alterações económicas profundas – queda do dólar e o crescimento do Euro (conceito de moeda única), o sustentar de um novo crescimento económico global onde já se observam os novos baluartes capitalistas provenientes do Oriente e as constantes vagas das novas tecnologias da comunicação. Hoje encontramo-nos num momento em que como afirma Jagdish Kapur: “há a necessidade de se encontrar um novo equilíbrio entre a ciência e a tecnologia mais avançadas ao dispor da espécie humana”...



Luís Miguel Pato

Artigo publicado no Jornal "O Centro"

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