terça-feira, fevereiro 26, 2008

Globalização, novos Media & um capitalismo zen...

No livro Media Work – Digital Media and Society Series, o autor norte-americano Mark Deuze entrevista vários profissionais que controlam os media e as novas tendências comunicacionais. Aqui poder-se-á destacar o facto dos enfoques das conversas de estarem relacionados com o porquê da existência do infotainement e de uma progressiva cultura light. A resposta é a existência de uma importância crescente que é dada à progressiva implementação de uma liquid life nos públicos dos media; aqui, poder-se-á destacar a importância de realidades como o Second Life e o Hi 5 onde, tal como acontece em bibliotecas mas sem os livros e sem os leitores em formato físico, se coleccionam saberes, culturas e interacções do mundo dentro de uma só realidade. Aliás, se pensarmos na existência dos forums romanos vemos que este relacionamento intercultural foi um dos segredos deste império do classicismo. Mas ao falarmos do livro de Deuze vemos que uma das conclusões assustadoras se relaciona com a ideia errada dos media serem uma indústria democrática onde, por exemplo, haverá sempre trabalho para quem quiser. Nesta questão, o autor destaca os aspectos que se referem à entrada das mulheres nas empresas de comunicação porque, devido ao domínio masculino nesta área, há a denominada: “formula mágica” que funciona com os seguintes pré-requisitos:

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Bom aspecto físico;
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Ser bem falante;
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Simpatia;
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Talento para trabalhar em equipa;
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Ser socialmente aceite.

Deuze garante que se estas premissas forem preenchidos a chegada ao topo é um facto que será consumado mais cedo ou mais tarde. Aqui, será prudente lembrar o esquecimento colectivo que a industria dos media fizeram a figuras, como o norte-americano Thomas Paine, que inspiraram escritas inflamadas acerca de: igualdade, fraternidade, liberdade, revolta e visões criticas acerca do domínio governamental.

Ao pensarmos em: You-tube, Google, Flickr, GMail, MSN – Messenger, Skype, Hi 5 etc., vemos que há hoje uma aparente substituição da linguagem oral por ferramentas que são conhecidas por anglicanismos e siglas que têm um entendimento universal. Aqui, poder-se-á fazer uma homenagem à implementação do Código Morse – uma linguagem universal – que, como sabemos, teve fins militares. Aliás, se pensarmos acerca da proveniência da Internet observámos um paralelismo interessante que se relaciona precisamente com uma origem também militar mas que agora é uma linguagem universal que inclui espaços públicos. Hoje, na Internet, tal como acontecia com os povos clássicos, onde se podem destacar os gregos com Péricles, há uma preocupação cívica que está, progressivamente, a caracterizar a Internet e os seus conteúdos. Aliás, para alem do poder de sugestão para auxiliar o utilizador na interacção com os equipamentos na Internet – aspecto que eliminará o restante do ruído – qual é a principal característica da Web 3.0? Historicamente, desde a “fuga” dos primeiros hominídeos da Mesopotâmia, sabe-se que a evolução humana dependeu essencialmente de dois factores que passaremos a referir: um que se relaciona com a necessidade de haver uma interacção física para que os povos pudessem manter e alimentar relações entre si. Outro aspecto relaciona-se com a necessidade de existirem espaços físicos estáveis que possibilitem o desenvolvimento de fenómenos comunicacionais mais intensos e mais globalizantes. Na primeira característica observa-se que a resposta passa pela, já histórica, necessidade de existir uma grande variedade de espaços físicos distantes para que existam fenómenos comunicacionais intensos e variados. Uma maior variedade de práticas mediáticas e dos fenómenos comunicativos será a chave para responder à segundo factor; aqui, destaca-se a crescente importância das comunicações móveis e da implementação de comunidades virtuais porque, tal como afirma Howard Rheingold: “elas podem fazer o que quiserem”. Aqui, para Anthony Giddens, o facto de vivermos num espaço de “alta modernidade” é a principal causa desta característica. E se imaginarmos um espaço de terra completamente virgem, sem nunca ter sofrido o impacto da sociedade, qual será o resultado?

Como resposta proponho que pensemos no filme “O Naufrago” (Castaway) de Robert Zemeckis Aqui, Tom Hanks interpreta Chuck Noland – um executivo da FedEx que se despenha numa ilha deserta. Ao longo do desenvolvimento da história conclui-se que se está perante um momento de auto procura que é forçado devido a questões de sobrevivência num local onde o isolamento é total. Ao longo do decorrer da trama, como reflexo da intensa solidão, há uma fase em que Noland faz um amigo imaginário chamado Wilson – que é uma bola de voleibol com essa marca impressa no couro. Esta obra de Zemeckis mostra, de uma forma bem dawarnista, que à beira do fim do mundo, onde civilização é apenas uma memória, um homem encontra o rumo da sua vida. Posto isto, chega-se à conclusão que o crescente grau solidão foi a base do decorrer da trama desta história cuja narrativa segue uma simplicidade linear que provém da, já clássica, ideia de que: meios ambientes adversos afectam o desenvolvimento do herói (ou da personagem principal) ao longo da obra. No entanto, e para não fugir ao tema, imagine-se que, a uma dada altura, existisse uma maquina que possibilitasse viagens de animais e até do próprio Chuck Noland desta ilha isolada para a civilização. Não tardaria muito e tendo em conta a origem norte-americana do filme teríamos um McDonald’s nas areais brancas da praia a servir hambúrgueres, batatas fritas e Coca Cola! E jamais teríamos a magnifica interpretação de “Light my Fire” dos Doors no momento em que Noland consegue acender pela primeira vez uma fogueira com a fricção de dois paus. Enfim, com as tendências tecnológicas da globalização verificar-se-ia que esta ilha, esta realidade e o homem naufragado jamais seriam os mesmos. Aqui demonstra-se o reflexo das consequências da nova era da globalização sobre as economias clássicas porque as realidades empresariais actuais são, tendencialmente, isoladas e amigas das barreiras geográficas. No entanto, quando estas são retiradas há sempre momentos de grande tensão devido à grande incerteza que caracteriza os resultados destas mudanças. Acerca deste assunto podemos ver os seguintes exemplos que aconteceram nos últimos trinta anos de globalização progressiva: o colapso do regime politico da África do Sul (Apartheid), a queda do Muro de Berlim, o desmoronamento da União Soviética, o aumento do número de países na União Europeia (resultantes da queda da “Cortina de Ferro”) e as vagas das novas tecnologias da comunicação. Em suma, conclui-se que nos próximos tempos haverá a possibilidade de assistirmos às visões empíricas sobre uma globalização para sustentar um novo crescimento económico global onde se deverão destacar os novos baluartes capitalistas provenientes do Oriente...


Luís Miguel Pato



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